Coming Home. - one shot

Mais uma noite, mais um jogo, mais um estádio repleto de milhares de adeptos aos gritos.
Oiço-as gritar a plenos pulmões o meu nome e sorrio para elas tal como elas o fazem para mim. Apesar de estar ali, o meu coração não está.
Deixei-te em casa de novo. Saí pela porta e tu, enquanto lágrimas brotavam pelos teus olhos lentamente, vias o meu corpo afastar-se cada vez mais de ti.
Estou farto. Preciso estar contigo. Sinto que sem mim não estás bem. Tenho medo que acabes por cometer uma loucura, tenho medo de perder a única coisa que preservo mais do que á vida.
Estou preso. Não consigo sair deste labirinto onde entrei sem saber o que me esperava. Não queria estes rótulos. Não queria esta vida onde a pressão me sufoca.
Para que querem saber com quem estou? Porque fingir que sou algo quando na verdade o oposto sou? Só tu sabes quem sou. Só tu entraste no meu coração e soubeste exactamente como tratar dele.
De novo um quarto de hotel estranho para mim. Nunca tinha estado neste, o que parece impossível. Olho para o meu lado esquerdo e algo está errado. Claro que está, não te tenho aqui.
O relógio bate as três da manhã e não consigo dormir. Fecho os olhos e és tu que vejo, sorridente, com o vestido cor de rosa que usavas no dia em que te conheci. Não mudaste nada.
O desejo de te ligar e ouvir a tua voz é imenso. Mas é tarde, estás a dormir. Ou será que pensas em mim tal como penso em ti?
Todos pensam que a minha vida é perfeita. Até posso concordar. Mas apenas é perfeita quando estou perto de ti. Não é justo para ti teres de me ver sempre a sair, não é justo termos horas para estarmos juntos. Não é justo derramares tantas lágrimas por alguém como eu.
Desisto. Não quero mais esta vida. A minha jornada aqui acabou, não sirvo para esta vida. O meu sonho realizou-se, porque não posso apenas descansar? Ninguém me prende, a cobardia apenas me impede de revoltar contra todo este sistema.
A roupa ainda está na mala. Todos dormem nos quartos ao lado do meu. Respiro fundo e olho uma vez mais pela janela, admirando as luzes da cidade. Cidade que nunca dorme, como dizem.
Pego na mala enorme e saio sorrateiramente. Não quero acordar os outros, não quero ter de explicar, não quero ter de ouvir.
Pego no telefone, o terminal de aeroporto está vazio. A voz da senhora que dá informações sobre os voos faz-se ouvir de quando em vez. Respiro fundo e marco o número que desejo marcar há tantas horas.
Uma voz perfeita e angelical atende, e um sorriso forma-se nos meus lábios.
- I’m coming home to you.